Presidente da Câmara rebate críticas do governo e diz que Planalto foi alertado sobre dificuldades para aprovar decreto do IOF no Congresso.
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), negou ter traído o governo Lula (PT) ao pautar a votação que derrubou os decretos do IOF. Em vídeo publicado nas redes sociais, Motta afirmou que o Executivo foi previamente alertado sobre a resistência à medida no Parlamento e criticou o discurso governista de justiça tributária, que classificou como tentativa de “polarização social”.
A declaração foi uma resposta às reações do Palácio do Planalto após a decisão da Câmara, que rejeitou os decretos editados pelo governo federal sobre o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O Planalto foi surpreendido com a inclusão da proposta na pauta legislativa, anunciada por Motta na noite anterior à votação, ocorrida na quarta-feira (25). A medida foi colocada em votação sem comunicação prévia ao Executivo, contrariando pedidos de ministros e resultando em uma derrota política para o presidente Lula.
Segundo Motta, o governo foi alertado sobre a dificuldade de aprovação da proposta no Congresso. “Capitão que vê barco ir em direção ao iceberg e não avisa não é leal, é cúmplice. E nós avisamos ao governo que essa matéria de IOF teria muita dificuldade de ser aprovada no Parlamento”, declarou.
O presidente da Câmara também rebateu as críticas do governo, afirmando que “presidente de qualquer Poder não pode servir ao seu partido. Tem que servir ao seu país”. Ele ainda criticou a postura do Executivo, que teria alimentado a ideia de ruptura institucional. “Quem alimenta o nós contra eles acaba governando contra todos. A polarização política tem cansado muita gente, agora querem criar a polarização social”, disse.
Para reforçar a atuação da Câmara em pautas de interesse público, Motta citou medidas aprovadas na mesma semana da queda do decreto, como a liberação de R$ 15 bilhões para habitação social e a proposta de crédito consignado no setor privado.
Dentro do governo, o episódio é visto por aliados como um possível prenúncio de uma disputa política antecipada para 2026. Segundo relatos, a decisão de Motta teria sido lida por Lula como um gesto pessoal de afronta, não apenas uma reação ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Em resposta, o presidente determinou à Advocacia-Geral da União (AGU) que elabore recursos ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar restabelecer os efeitos do decreto. A ordem foi dada na noite de quinta-feira (26), durante reunião com o ministro da AGU, Jorge Messias, e a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann.
Apesar da disposição do Planalto em judicializar o caso, integrantes do governo alertam para os riscos políticos da medida. Há temor de que uma decisão favorável no STF possa ser usada pela oposição como argumento de que o presidente está aumentando impostos por via judicial, mesmo que o objetivo declarado seja tributar os mais ricos e reduzir a carga sobre os mais pobres.
Há ainda preocupação com o impacto da crise na tramitação de projetos estratégicos e no orçamento. Uma ala do governo defende a reaproximação com o Congresso para evitar novos confrontos institucionais.
Por Redação
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