Tarifas anunciadas por Trump ao Brasil provocam crise no bolsonarismo, dividem estratégias e aumentam pressão por anistia a Bolsonaro no Congresso.
O tarifaço anunciado por Donald Trump contra produtos brasileiros gerou forte repercussão política no país, dividindo o bolsonarismo, colocando governadores de direita em posição delicada e intensificando a pressão por uma anistia que livraria Jair Bolsonaro de julgamento por tentativa de golpe.
A crise teve início na segunda-feira (7), quando Trump publicou uma mensagem em defesa de Bolsonaro, alegando perseguição e pedindo que ele fosse julgado apenas nas urnas. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), endossou o discurso, criticando o TSE e o STF.
A situação se agravou na quarta-feira (9), com o anúncio de tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. Em carta endereçada a Lula, Trump afirmou que a medida respondia à suposta censura imposta ao ex-presidente Bolsonaro.
Inicialmente, governadores aliados de Bolsonaro culparam exclusivamente o governo federal. Tarcísio e Zema criticaram o Executivo e o STF. Já Ratinho Jr. e Cláudio Castro preferiram o silêncio.
Com a reação negativa da opinião pública e da imprensa, os governadores recuaram. Zema passou a classificar o tarifaço como injusto. Caiado pediu negociações. Tarcísio mudou o tom, elogiou o Itamaraty e evitou ataques a Lula, sinalizando prioridade à defesa da economia paulista.
Nos bastidores, Tarcísio iniciou uma agenda em Brasília, se reunindo com Bolsonaro, ministros do STF e o chefe da embaixada americana. Ele chegou a sugerir a liberação do passaporte de Bolsonaro para que o ex-presidente negociasse pessoalmente com Trump, proposta considerada absurda por magistrados.
Enquanto Tarcísio buscava moderação, o núcleo mais fiel a Bolsonaro manteve a pressão pela anistia. Eduardo Bolsonaro rejeitou qualquer acordo sem o perdão judicial e criticou Tarcísio abertamente. Flávio Bolsonaro reforçou o tom e afirmou estar mais alinhado com o pensamento de Trump.
Bolsonaro, por sua vez, tentou suavizar o discurso no domingo (13), dizendo não se alegrar com os efeitos econômicos das tarifas, mas reiterou o apelo por anistia como solução política e econômica: “com a anistia, também a paz para a economia”, afirmou.
O presidente Lula reagiu firmemente à carta de Trump, reafirmando a independência do Judiciário brasileiro. Na sexta-feira (11), criticou diretamente Bolsonaro por envolver Trump em questões internas e por ter enviado o filho aos EUA para pressionar o ex-presidente americano.
No domingo (13), cerca de 15 mil pessoas participaram de um ato na Avenida Paulista, organizado originalmente para protestar contra a desigualdade, mas que incorporou o tema da soberania nacional após o anúncio das tarifas — número superior ao da última manifestação bolsonarista.
Para o PT, a crise oferece uma oportunidade para Lula reforçar sua imagem como defensor dos interesses nacionais e isolar a oposição, desgastada pela postura dúbia diante das medidas de Trump.
No campo jurídico, não há sinal de que o Supremo cederá às pressões externas. O julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe continua previsto, enquanto Eduardo Bolsonaro, investigado por obstrução de Justiça, pode ter sua situação agravada.
A tensão entre ideologia e pragmatismo econômico aprofundou o racha no bolsonarismo. Enquanto parte dos aliados tenta evitar o desgaste provocado pelas tarifas de Trump, o núcleo mais fiel insiste na troca: anistia a Bolsonaro em troca do fim do tarifaço — uma equação que, por ora, parece distante de uma solução.
Por Redação





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