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13.7.21

Psicóloga fala sobre dificuldades das mulheres que vivem violência doméstica e importância da rede de apoio: ''trauma é para o resto da vida''

 Em entrevista ao ClickPB, psicóloga explicou que rede de apoio é fundamental para que as mulheres consigam sair de relações abusivas e ressaltou a importância da terapia.

Recentemente, o tema da violência doméstica voltou a ganhar destaque em todo o país, após a esposa do DJ Ivis, Pamella Holanda, divulgar vídeos que mostram o marido agredindo-a fisicamente. Embora esse caso específico tenha explodido na mídia, a violência doméstica é algo recorrente na sociedade e muitas vezes é até naturalizada pelas pessoas. ''Infelizmente, a sociedade ainda é muito machista e patriarcal'', afirmou a psicóloga Renata Toscano, em entrevista ao ClickPB.

A própria Pamella Holanda contou que pessoas que presenciaram agressões sofridas por ela diziam que ela precisava aguentar, pois o marido tinha um temperamento explosivo. ''Já tive paciente que contou a mãe que foi agredida e a mãe respondeu 'você não sabe o que tive que aguentar do seu pai''', lembrou Renata Toscano. Ela explicou que quando a sociedade normaliza esse tipo de comportamento, contribui para que a mulher acredite que precisa se submeter a abusos para se manter casada.

Outra questão importante, segundo ela, é a dependência financeira e emocional das vítimas. "Não há como se envolver com alguém sem dependência emocional. Quando você se relaciona com alguém, está buscando acolhimento, proteção e apoio. Se você não tem isso, há duas opções: ou você entende que não é aquilo que você quer e vai embora ou você aceita'', disse a psicóloga. 

Renata Toscano explicou que uma mulher que recebeu muitos reforços positivos da família ao longo da vida, e por isso é mais confiante, tem mais possibilidade de sair de uma relação abusiva. ''Nós somos o que fizeram de nós. Se a mulher cresce ouvindo dos pais que ela é boa, capaz e que vai conseguir, ela tende a se tornas mais segura e confiante. Quando ela for mal tratada ela vai pensar 'não quero isso, meu pai não gritava comigo, não é você que vai gritar''', explicou. 

Por outro lado, uma mulher que cresceu em um lar violento ou negligente, ou que nunca teve muito apoio da família, pode achar que um comportamento abusivo do companheiro é algo normal, conforme explicou a psicóloga.

Atenção aos sinais

Renata Toscano afirmou que, muitas vezes, o agressor também é uma pessoa que sofreu violência no passado, na infância ou adolescência. ''Geralmente são adolescentes que crescem mais rebeldes, que não temem autoridade, têm comportamento explosivo'', comentou. A psicóloga destacou, porém, que isso não justifica nenhum ato de violência contra a mulher.

Ela disse ainda que é importante ter atenção aos sinais de um relacionamento abusivo, que, no início, podem ser sutis como pedir para trocar uma roupa curta ou criticar amizades. ''Às vezes a mulher entende aquilo como um conselho de uma pessoa que ama e vai permitindo'', contou Renata. Porém, com isso ela dá autoridade para que esse homem aja de forma mais agressiva e controladora no futuro.

A psicóloga ressaltou que, além da vergonha, muitas mulheres não falam sobre os abusos que sofrem por medo de que ninguém acredite, até porque, muitas vezes os agressores são homens socialmente aceitos e bem vistos. No entanto, geralmente é possível perceber alguns sinais. ''A mulher tende a ficar mais calada, mais triste, deixa de sorrir, passa a usar roupas que cobrem mais o corpo'', exemplificou.

Ela ressaltou que ao identificar que uma parente ou amiga está sofrendo violência doméstica, o ideal é tentar se aproximar e conversar com a pessoa, mostrando que ela pode confiar em você. ''Ter uma rede de apoio é fundamental''.

Lidando com o trauma

A psicóloga informou ao ClickPB que mulheres que sofrem violência doméstica muitas vezes desenvolvem problemas como depressão, transtorno de estresse pós-traumático ou transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Além disso, quem sofre com a violência doméstica carrega um trauma para o resto da vida. Por isso, a terapia é importante e pode ser iniciada inclusive antes mesmo da separação.

Ela relatou o caso de uma paciente que havia desenvolvido depressão e TOC devido à violência doméstica que sofria e não tinha coragem de contar a ninguém. Apenas na terapia ela conseguiu falar sobre o assunto e só depois de três anos de tratamento tomou coragem para se separar do marido.

''Algumas mulheres não têm condições de procurar a terapia enquanto ainda estão no relacionamento, por limitações financeiras ou por não liberdade suficiente para isso, mas para as mulheres que puderem, é muito importante'', disse.

Mesmo após o término da relação, existem consequências psicológicas que podem ser tratadas na terapia. ''Essa mulher vai ter dificuldade de confiar em outro homem, em ter outro relacionamento. Ela vai precisar de muito apoio para reconstruir a autoestima dela''.

Por ClickPB

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