Relatório “Floresta em Pó” mostra 550 laboratórios de cocaína ativos no Brasil desde 2019 e movimentação de mais de R$ 30 bilhões no período.
O Brasil teve pelo menos 550 laboratórios de processamento de cocaína em funcionamento entre 2019 e julho de 2025, segundo o estudo “Floresta em Pó”, divulgado nesta quinta-feira (30). A publicação, organizada pela Iniciativa Negra por Uma Nova Política de Drogas e pela Drug Policy Reform & Environmental Justice International Coalition, aponta que o refino da droga pode ter adicionado mais de R$ 30 bilhões ao mercado criminoso no país.
De acordo com o levantamento, o faturamento total do mercado da cocaína no Brasil em 2024 chegou a US$ 65,7 bilhões. A maior parte dessa riqueza vem do atacado (60%), seguido pelo varejo (22%), refino e beneficiamento (17,99%) e cultivo (0,01%).
Os dados mostram que os laboratórios têm papel central em uma cadeia altamente lucrativa, responsável por lavar dinheiro do crime organizado e financiar outras atividades ilegais, como garimpo, extração de madeira e grilagem de terras.
Segundo o estudo, elaborado em parceria com o Instituto Fogo Cruzado, foram identificadas 235 unidades voltadas ao varejo e 180 ao atacado. As estruturas se dividem entre refino da pasta-base e adulteração da cocaína, processo conhecido como “engorda”, que aumenta o volume do produto final.
Distribuição e rotas
A pesquisa aponta que Goiás lidera o número de laboratórios (125), seguido por Amazonas (42), São Paulo (37), Minas Gerais (34) e Mato Grosso (29). Essas unidades estão ligadas às principais rotas do tráfico, como a do Solimões, que conecta a Amazônia aos portos de Barcarena (PA) e Santana (AP), e a chamada rota caipira, que cruza Bolívia e Paraguai até grandes centros do Sudeste e o porto de Santos (SP).
Os destinos mais comuns da droga brasileira são países da Europa — como Portugal, Espanha, França, Bélgica, Holanda e Alemanha — além de Cabo Verde, Nigéria e nações do Caribe.
Análise e contexto
De acordo com o pesquisador Daniel Edler, do Instituto Fogo Cruzado e da Uerj, os dados foram obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação e cruzados com registros oficiais e reportagens. Ele destaca a ausência de dados governamentais padronizados sobre o tema.
“O primeiro grande diagnóstico é que não temos dados
governamentais sobre o assunto”, afirmou Edler. “Às vezes, há informação de uma apreensão, mas sem clareza se no local havia trabalho de refino.”
O pesquisador explica que o refino da cocaína ganhou força no Brasil a partir de 2016, após a desmobilização das Farc na Colômbia, o que deslocou parte da produção para países como Brasil e Equador. Ele ressalta que o tráfico internacional segue em expansão, com estruturas cada vez mais descentralizadas e adaptáveis.
Conclusão
Para Edler, o combate ao tráfico deve ir além das operações ostensivas e focar no rastreamento financeiro e na atuação contra os facilitadores políticos e econômicos. Ele cita a Operação Carbono Oculto como exemplo de ação eficaz por investigar o lavagem de dinheiro em instituições financeiras e negócios legalizados.
“O mercado da cocaína funciona como um anabolizante para outras atividades criminosas. É fundamental integrar forças de segurança, Receita Federal, Coaf, Ibama e Funai para enfrentar essa cadeia de forma mais efetiva”, conclui o pesquisador.





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