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30.8.14

Médicos ou monstros? Doutores acusados de crimes estupraram, deformaram e mataram pacientes

Em alguns dos casos, alguns dos condenados continuam atendendo, mesmo depois de julgados

 

    reprodução R7
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 No livro clássico do século 19 do escocês Robert Louis Stevenson, um médico cria e testa em si próprio uma fórmula que, ele acredita,  tem o poder de separar seu lado bom do seu lado mau. O Médico e o Monstro,  que teve várias adaptações para o cinema e a TV,  culmina com o doutor vendo-se incapaz de controlar os efeitos da poção,  e sucumbindo à própria criação,  preso eternamente em sua versão malévola.

  É um roteiro de ficção,  mas que, infelizmente,  produz ecos na realidade.  Assim como Roger Abdelmassih,  preso no último dia 19, depois de quatro anos em fuga,  outros doutores ficaram famosos ao se deixarem dominar por sua “metade má”.  De médicos passaram a monstros no exercício da medicina.

  De ginecologistas que abusaram de mulheres em consulta até nefrologistas que extraíram rins de pacientes ainda vivos,  conheça agora casos que estremeceram e chocaram a saúde brasileira, e veja quais foram seus desfechos — em alguns deles,  aliás,  mesmo condenados,  os médicos ainda continuam atendendo.

  Sofrer violência médica de um ginecologista particular,  fruto de uma escolha entre milhares de opções, já é imensamente degradante para qualquer mulher,   embora ninguém possa prever esse tipo de comportamento,  porém,  quando o abuso vem de um profissional da rede pública,  por quem não se teve a chance de optar,  a revolta é ainda maior.

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Foi com este sentimento em comum que 21 pacientes procuraram a polícia em março de 2010 para prestar queixa contra Hélcio Andrade, ginecologista da Casa da Mulher Taubateana, em Taubaté, no Vale do Paraíba (SP). Segundo elas, o médico praticou abuso sexual durante suas consultas, sob o pretexto de checar o correto uso do DIU (dispositivo intrauterino). Andrade simulava relações sexuais com os dedos,  além de fazer movimentos bruscos durante o exame.

 Nove das denúncias foram levadas à Justiça, e, por cinco delas, Andrade acabou condenado a nove anos e quatro meses de reclusão, mas teve o direito de aguardar o julgamento em liberdade. Um ano depois, com o médico foragido, sua pena foi aumentada em dez anos. No último dia 18, depois de quatro anos escondido, Andrade foi encontrado e preso em Ponta Porã, município a 326 quilômetros de Campo Grande (MS), na fronteira com o Paraguai.


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Você se consultaria com uma médica acusada de assassinar pacientes no passado? Pois o CRM-PR (Conselho Regional de Medicina do Paraná) entende que há quem possa, sim, se interessar em marcar um horário com Virgínia Helena Soares de Souza, ex-chefe da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Evangélico de Curitiba, e que responde a processo por envolvimento na morte de sete pacientes possivelmente por eutanásia por ela e outros sete colegas em fevereiro de 2013.  Mesmo depois da acusação, que aponta que ela seria a líder do grupo, Virgínia, que aguarda o desfecho do processo em liberdade, ainda tem intacto e ativo seu registro no CRM-PR — o que significa, em termos práticos, que ela é autorizada a continuar exercendo a medicina normalmente.
   O Ministério Público do Paraná informa, por meio da sua assessoria de imprensa, que o processo envolvendo Virgínia está em fase de instrução, aguardando perícia. No momento, são analisadas provas, documentos e prontuários médicos, e testemunhas estão sendo ouvidas. Por enquanto, não há previsão para uma nova audiência.


Os consultórios dos doutores Pedro Henrique Torrecillas,  Mariano Fiore Júnior e Rui Noronha Sacramento são exatamente iguais aos de qualquer outro médico.  Neles, há um telefone,  e,   cada vez que ele toca,  uma secretária atende,  listando os dias disponíveis para consulta.  No entanto, o que diferencia as clínicas deles das dos demais profissionais é o fato de que lá atendem médicos condenados pela Justiça por crimes bárbaros contra seus pacientes. Torrecillas, Fiore Júnior e Sacramento foram denunciados,  em 1987, como participantes de um esquema de retirada ilegal de rins de pacientes para doação e transplantes,  junto com o médico Antônio Aurélio Monteiro.  As investigações levaram tantos anos que Monteiro morreu no meio do processo,  seis meses antes do julgamento que,  em 2011,  condenou seus três colegas a 17 anos de prisão.

Segundo o Ministério Público, todos falsificaram prontuários de pacientes vivos,  informando morte encefálica  (sem atividade cerebral e sem respiração natural)  para convencer as famílias a autorizarem a retirada dos rins para doação.  Depoimentos das testemunhas ao júri relataram situações medonhas como,  por exemplo,  os médicos cravando bisturis no peito de pacientes que se debatiam, vivos,  na maca do centro cirúrgico.

 Como os envolvidos no caso Kalume — como o inquérito ficou conhecido,  em homenagem ao médico Roosevelt Kalume,  que fez as denúncias — recorrem da decisão em liberdade,  todos ainda mantêm seus registros no Cremesp  (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo)  ativos,  e seguem atendendo em consultórios particulares e clínicas de Taubaté,  no Vale do Paraíba (SP).  Eles chegaram a ser condenados pelo órgão nos anos 80,  mas,  depois de recorrerem ao CFM 
(Conselho Federal de Medicina),  foram absolvidos e,  depois disso,  nenhum novo processo foi aberto.


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A maioria das mulheres que visita com frequência seus ginecologistas sabe como funciona um exame de rotina. Mas, por aquela ser sua primeira consulta com um médico desta especialidade,  uma jovem paulistana de 24 anos ficou confusa com o método usado pelo doutor Rogério Pedreiro. Por fim, acabou considerando que talvez fossem normais os abusos que sofreu no episódio, acontecido em 2012, e só descobriu que havia algo de errado meses depois, em uma conversa com uma amiga.

A jovem e sua mãe,  de 49 anos,  passaram em consultas separadas naquele mesmo dia.  Em ambos os atendimentos, Pedreiro — clínico-geral sem formação específica em ginecologia — cometeu absurdos como o toque retal,  prática raramente necessária em mulheres saudáveis , mas que era praxe em sua conduta.  Não usou luvas,  perguntou se as pacientes sentiam prazer com sua mão,  e ainda questionou-as a respeito de suas preferências na vida sexual .

Acabou denunciado pelas duas,  e,  em seguida,  por outras seis mulheres,  atendidas entre 2007 e 2011,  o que levou a polícia a fazer uma investigação.  Pedreiro foi preso em 31 de agosto de 2012, condenado à pena de quatro anos e oito meses de reclusão.  Em 21 de maio de 2013,  segundo publicação no Diário Oficial,  Pedreiro teve um pedido de habeas corpus negado.  Ainda assim,  seu registro no Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) continua ativo .


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 Em busca do corpo dos sonhos, a jovem Flávia Rosa, de 23 anos, procurou, em março de 2001, um cirurgião para realizar uma lipoaspiração. O que ela não sabia é que o aparentemente experiente doutor era Denísio Marcelo Caron, um médico sem especialização em cirurgia plástica, que causaria sua morte dali a poucos dias, depois de perfurar seu fígado durante a operação.

Além de Flávia, Caron é acusado de ter provocado a morte de outras quatro mulheres, além de deformar de forma grave 29 pacientes, sempre por complicações nas lipoaspirações que se dizia habilitado a realizar. Embora natural de São José do Rio Preto, em São Paulo, Caron atendia em Goiânia e, depois, no Distrito Federal. Caron foi condenado a pagar indenizações a algumas famílias de vítimas, como a de Graziela Murta de Oliveira, morta em fevereiro de 2002, que recebeu R$ 200 mil do ex-médico. Além dela, Marlene Maria Alves, que ficou com sequelas depois de ser operada por Caron, recebeu R$ 88 mil por danos morais e materiais.

Pela morte de Flávia Rosa, Caron foi condenado a 13 anos de prisão em regime semiaberto em agosto de 2013. No entanto, como sua defesa recorreu, o ex-médico aguarda um novo julgamento em liberdade.


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 As credenciais do ucraniano naturalizado brasileiro Eugênio Chipkevitch não deixavam brecha para qualquer tipo de suspeita sobre seu caráter. Formado na Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), foi o responsável por introduzir no Brasil a hebiatria, uma especialidade que cuida especificamente de adolescentes. Era dono de sua própria clínica, o Instituto Paulista da Adolescência, e tinha seu nome incluído em diversas publicações médicas importantes no mundo inteiro.

No entanto, por trás de tantos predicados que ajudavam a lotar sua agenda diariamente, escondia-se um pedófilo, acusado, mais tarde, de abusar de pelo menos 35 garotos, de idades entre 8 e 16 anos. Sob o pretexto de que precisava atualizar as vacinas dos meninos, Chipkevitch sedava-os e molestava-os ao longo da uma hora e meia que durava cada consulta. 

  Para completar o cenário de horror, o médico ainda filmava tudo com uma câmera escondida.  Só acabou descoberto em 2002,  quando 35 fitas de vídeo contendo imagens dos abusos foram encontradas no lixo por um técnico de telefonia.  Chipkevitch foi preso e condenado a 114 anos de detenção em regime fechado,  e cumpre pena em um presídio de Sorocaba,  interior de São Paulo.


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 Com a esperança de realizar o sonho de ter um filho, 20 mil mulheres, vindas de todas as partes do Brasil, passaram pela clínica de reprodução assistida do doutor Roger Abdelmassih desde a sua criação. O médico, que antes era famoso por ajudar casais — muitos deles famosos na mídia — a engravidar, acabou saindo das revistas de celebridades direto para as páginas policiais, depois de ser denunciado por pacientes que diziam ter sido violentadas por Abdelmassih.

As acusações se confirmaram, e o médico foi condenado a 278 anos de prisão por 52 estupros e quatro tentativas de abuso a 39 mulheres. Ele chegou a ser preso em 2009, mas foi liberado às vésperas do Natal, beneficiado por um habeas corpus concedido pelo então presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes.

 Ao tentar renovar o passaporte em 2011, Abdelmassih teve um novo pedido de prisão decretado — porém, ele nunca mais foi encontrado, e entrou para a lista dos mais procurados da Interpol. A situação durou por quatro anos, até o último dia 19, quando foi preso em Assunção, no Paraguai, onde vivia com a mulher, Larissa Sacco, e os dois filhos gêmeos.

Desde então, Abdelmassih se encontra detido no Presídio de Tremembé, no interior de São Paulo.







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