Mulheres são as mais impactadas entre os profissionais nascidos entre 1982 e 1996, devido à sobrecarga relacionada à dupla jornada, segundo pesquisa
Profissionais da geração Z (aqueles nascidos entre 1997 e 2012) e os Millennials (1982 a 1996) são os que mais usam medicamentos para saúde mental, especialmente antidepressivos e ansiolíticos. É o que aponta um levantamento feito pela Vidalink, empresa de planos corporativos de bem-estar.
O estudo foi feito com base na análise de 273.626 unidades de medicamentos consumidas ao longo do último ano por 58.949 colaboradores de 165 empresas brasileiras. O levantamento integra o monitoramento do plano de medicamentos subsidiado pelas empresas, que cobre de 50% a 100% do custo dos tratamentos.
Segundo os dados, a geração Z foi a que mais cresceu em 2024 em relação ao consumo de medicamentos para saúde mental, com aumento de 7,9% no número de usuários do plano e de 6,6% no volume de medicamentos consumidos. Em seguida, os Millennials apresentam alta de 6,8% no número de usuários e de 5,6% nas unidades de medicamentos.
Já a geração X (nascidos entre 1965 e 1980) apresentou retração, com redução de 3% no número de usuários e de 3,8% na quantidade de medicamentos subsidiados. Os Baby Boomers (nascidos entre 1946 e 1964) também registraram queda: diminuição de 5% no número de usuários e de 3,9% no consumo de medicamentos.
"Na minha opinião, o crescimento expressivo do uso de medicamentos de saúde mental entre os jovens da geração Z está ligado a um conjunto de fatores bastante específicos dessa geração, que enfrentam um cenário diferente do vivido pelas anteriores", avalia Luis Gonzalez, CEO e cofundador da Vidalink, à CNN.
"Em primeiro lugar, o maior isolamento social, especialmente intensificado durante a pandemia, impactou profundamente o desenvolvimento das habilidades interpessoais. Muitos jovens ingressaram no mercado de trabalho em um contexto remoto, dificultando a construção de relações significativas com colegas e líderes, o que pode gerar sentimentos de solidão e desconexão", observa.
Em seguida, o empresário cita a insegurança constante que a geração vive em relação à estabilidade no emprego, com receio de novas crises econômicas, mudanças abruptas no mercado e futuro incerto, o que contribui para o aumento da ansiedade e do estresse.
"Soma-se a isso uma sensação de fadiga mental crônica, causada pela sobrecarga de informação, pela aceleração tecnológica e pela pressão constante para se adaptar rapidamente a novas realidades", afirma.
Gonzalez também destaca que a geração Z é mais aberta para falar sobre saúde mental e buscar ajuda. "Por um lado, isso é extremamente positivo, mas também revela um volume maior de diagnósticos e tratamentos. A maior conscientização, aliada à fragilidade do contexto atual, ajuda a explicar o crescimento do uso de medicamentos psiquiátricos entre esses jovens", completa.
Millennials lideram no uso de medicamentos para saúde mental, com maior impacto entre mulheres
Para o empresário, é importante considerar que muitos Millennials estão, atualmente, em posições de maior responsabilidade no trabalho, ao mesmo tempo em que acumulam papéis familiares importantes, como o cuidado com filhos pequenos, com os pais ou com a casa. "Essa dupla jornada, especialmente para as mulheres, pesa muito", afirma Gonzalez.
Segundo o Check-up de bem-estar 2024, pesquisa anual feita com usuários da Vidalink, 44% das mulheres Millennials enfrentam a sobrecarga de dupla jornada diariamente, o que as torna mais vulneráveis ao esgotamento mental.
Além disso, os dados mais recentes do Ministério da Previdência Social mostram que mulheres representam 64% dos afastamentos por transtornos mentais no Brasil, com idade média de 41 anos.
Somados a isso, outros dados da Vidalink mostraram que, além do impacto das gerações na utilização de medicamentos de saúde mental, as mulheres são 79% mais propensas que os homens a utilizarem medicamentos para saúde mental. O crescimento no consumo entre elas foi 2,5 vezes maior do que entre os homens em 2024.
"Em resumo, a liderança dos Millennials no uso de medicamentos para saúde mental reflete não só um maior nível de estresse e responsabilidades acumuladas, como também um avanço positivo na forma como essa geração encara o autocuidado emocional — especialmente entre as mulheres, que enfrentam um cenário de pressão intensa e desigual", avalia Gonzalez.
Tendência é de aumento de profissionais medicados, avalia CEO
Para Gonzalez, a tendência ainda é de aumento no número de profissionais que utilizam medicamentos para saúde mental, ao menos no curto e médio prazo.
"Embora o tema esteja cada vez mais presente nas pautas das empresas, a mudança cultural necessária para transformar o ambiente de trabalho em um espaço realmente saudável e acolhedor ainda está em construção", afirma.
Para o empresário, o aumento no uso de medicamentos, especialmente entre as gerações mais jovens e as mulheres, como mostram os dados recentes, reflete tanto o agravamento das condições de saúde mental no mundo do trabalho quanto uma maior aceitação e busca por tratamento.
"Hoje, profissionais — principalmente da geração Z e dos Millennials — estão mais atentos aos sinais de estresse, burnout e ansiedade, e mais dispostos a buscar ajuda médica, o que é positivo. Mas esse movimento de conscientização também evidencia o quanto ainda há desequilíbrios estruturais no ambiente corporativo, como sobrecarga, jornadas duplas e insegurança profissional", afirma.
"Enquanto as causas desses transtornos — como assédio moral, excesso de trabalho, falta de apoio e desequilíbrio entre vida pessoal e profissional — continuarem presentes, é natural que o número de pessoas em tratamento siga crescendo", opina Gonzalez. "A boa notícia é que, à medida que mais empresas se comprometerem genuinamente com a saúde mental, criando políticas consistentes de prevenção, suporte e acolhimento, é possível que essa curva se estabilize ou até comece a cair", finaliza.
Por: CNNBrasil
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