Esse é o primeiro estudo a identificar que o uso não abusivo de maconha tem claras associações adversas e prejudiciais para adolescentes
Um estudo da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, descobriu que adolescentes que usam maconha para fins recreativos têm de duas a quatro vezes mais risco de desenvolver distúrbios psiquiátricos, como depressão e tendências suicidas, do que os jovens que não usam a droga. De acordo com os autores, essa é a primeira pesquisa a identificar que o uso não abusivo de cannabis tem claras associações adversas e prejudiciais para adolescentes.
Publicado recentemente no JAMA Network Open, o trabalho descobriu que o uso casual de cannabis coloca os adolescentes em risco de problemas de comportamento, incluindo baixo desempenho acadêmico, evasão escolar e problemas com a lei, o que pode ter consequências negativas de longo prazo que podem manter os jovens de desenvolver todo o seu potencial na idade adulta.
“Existem percepções entre jovens, pais e educadores de que o uso casual de cannabis é benigno. Ficamos surpresos ao ver que o uso de cannabis tinha associações tão fortes com a saúde mental adversa e os resultados de vida de adolescentes que não atendiam aos critérios para ter uma condição de abuso de substâncias”, disse o médico Ryan Sultan, professor assistente de psiquiatria clínica no Departamento de Psiquiatria da Columbia e principal autor do estudo, em comunicado.
10% dos jovens usam maconha casualmente
Os pesquisadores analisaram as respostas de aproximadamente 70 mil adolescentes com idade entre 12 e 17 anos, que participaram da Pesquisa Nacional sobre Uso de Drogas e Saúde, que coleta, anualmente, dados sobre tabaco, álcool, drogas ilícitas e saúde mental.
Os resultados mostraram que 1 em cada 10 adolescentes eram usuários casuais de cannabis e aproximadamente 1 em 40 preencheram os critérios para dependência de maconha. Para ser considerado viciado, um indivíduo deve atender a pelo menos dois de 11 critérios, que incluem incapacidade de reduzir o consumo, desejos constantes pela droga e problemas sociais e de relacionamento.
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Além disso, os usuários casuais da droga tinham uma probabilidade de 2 a 2,5 vezes maior de ter resultados adversos de saúde mental e problemas comportamentais, em comparação com os adolescentes que não usavam cannabis. Já os jovens que atendiam os critérios para vício tiveram 3,5 a 4,5 vezes mais chances de ter esses problemas.
“Ter depressão ou tendência suicida pode levar os adolescentes a usar maconha como forma de aliviar seu sofrimento. Ao mesmo tempo, o uso de cannabis provavelmente piora os sintomas depressivos e suicidas”, pontuou a médica Frances R Levin, MD, professora de psiquiatria na Universidade Columbia e autora sênior do estudo.
Impacto da maconha no cérebro adolescente
O uso de maconha na adolescência está associado à dificuldade de raciocínio, resolução de problemas e memória reduzida, bem como ao risco de dependência de longo prazo. Diversos estudos mostram que a cannabis pode alterar o desenvolvimento do córtex cerebral, o centro de raciocínio e função executiva do cérebro, representando um risco particularmente alto nessa faixa etária, quando o cérebro ainda não amadureceu.
"Expor cérebros em desenvolvimento a substâncias formadoras de dependência parece preparar o cérebro para ser mais suscetível a desenvolver outras formas de vício mais tarde na vida", alertou Levin.
Os resultados do novo estudo levantam questões sobre a necessidade de reavaliar os critérios usados para estabelecer um diagnóstico de um transtorno por uso de substâncias para jovens.
Crescente legalização da cannabis
Para os pesquisadores, as descobertas são particularmente preocupantes, dada a popularidade da cannabis e a ampliação da legalização do uso recreativo da droga. Entre adolescentes, o uso de maconha é ilegal mesmo em estados onde a cannabis é legalizada, mas isso não os impede de ter acesso a ela.
O próximo passo da equipe é avaliar se o uso casual de nicotina e álcool por adolescentes também demonstra efeitos adversos e prejudiciais na função cerebral, saúde mental e dependência de longo prazo.
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