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30.11.22

Efeitos da exposição ao zika no útero podem aparecer até cinco anos depois

 Pesquisa sinaliza possíveis problemas no neurodesenvolvimento de crianças cujas mães foram infectadas pelo vírus na gravidez

Os efeitos da exposição ao zika vírus ainda no útero nem sempre são percebidos de forma imediata, alerta um grupo de cientistas dos Estados Unidos. Eles observaram que crianças cujas mães tiveram contato com o micro-organismo ainda na gravidez podem passar a apresentar problemas no neurodesenvolvimento de três a cinco anos depois. Diferenças cognitivas, no humor e na mobilidade estão entre as complicações, detalhadas na edição de ontem da revista Pediatric Research.

Primeira autora do artigo, Sarah Mulkey, neurologista pré-natal do Children's National Hospital, enfatiza que a constatação reforça a necessidade de um monitoramento adicional de meninos e meninas que nasceram nessa condição.

"Essas descobertas são uma peça do quebra-cabeça que fornece informações sobre o neurodesenvolvimento de longo prazo de crianças com exposição pré-natal ao vírus zika. Elas indicam que uma avaliação mais aprofundada é necessária à medida que essas crianças envelhecem", afirma, em nota.

Mulkey lembra que ainda não está claro como as crianças que, durante a epidemia de 2015 a 2017, foram expostas ao vírus no útero e não sofreram complicações imediatas, como a microcefalia e a síndrome congênita do zika, vão se desenvolver à medida que envelhecem. Em busca dessas respostas, ela e colegas avaliaram o neurodesenvolvimento de 55 crianças de 3 a 5 anos que nasceram sob essa condição em Sabanalarga, Colômbia, e as compararam com 70 crianças com de 4 a 5 anos sem esse contato fetal.

As avaliações ocorreram entre dezembro de 2020 e fevereiro de 2021, período em que a equipe testou as habilidades motoras das crianças (como destreza manual, equilíbrio, mirar e pegar objetos) e a prontidão para a escola (incluindo conhecimento de cores, letras, números e formas).

Além disso, os pais responderam a três questionários com informações sobre a função cognitiva dos pequenos (como memória e controle emocional), condições comportamentais e físicas (responsabilidade, mobilidade etc.) e sua experiência como responsáveis por essas crianças (incluindo se se sentiam angustiados com o contato precoce com o vírus).

Nos testes, crianças expostas ao zika obtiveram pontuações baixas em prontidão para a escola. Os relatos dos pais, por sua vez, indicaram a ocorrência de níveis significativamente mais baixos de mobilidade e responsabilidade — nos testes, houve diferença nos escores de função cognitiva, mas não significativa.

Além disso, os responsáveis de 11% das crianças expostas ao zika relataram problemas de humor, contra 1% das do grupo controle. A equipe também identificou que os integrantes do primeiro grupo eram mais propensos a relatarem sofrimento parental.

Aposta em anticorpo ultrapotente

Mesmo em pouca quantidade, um tipo incomum de anticorpo conseguiu neutralizar o zika, tornando a infecção viral indetectável. O resultado foi observado em experimentos com ratos por cientistas estadunidenses e, segundo eles, abre caminho para o desenvolvimento de terapias que protejam bebês dos efeitos potencialmente devastadores dessa infecção.

"Existem duas maneiras possíveis de usar esse anticorpo: para reduzir rapidamente os níveis de zika no sangue de pessoas grávidas que foram infectadas ou como medida preventiva para pessoas em risco de contrair o vírus durante um surto", explica Sallie Permar, pediatra e pesquisadora da Weill Cornell Medicine e uma das autoras da pesquisa, apresentada, neste mês, na revista Cell.

Os pesquisadores isolaram um anticorpo ultrapotente de imunoglobulina M (IgM) usando células sanguíneas retiradas de grávidas infectadas pelo zika cujos filhos pareciam saudáveis. A hipótese do grupo era de que essas mulheres poderiam abrigar anticorpos capazes de prevenir a infecção congênita, o que se confirmou em camundongos. Os experimentos mostraram que o IgM protegeu as cobaias de infecções letais e suprimiu o vírus a ponto de ele não poder ser detectado em exames de sangue.

Os efeitos desse anticorpo, chamado DH1017.IgM, também surpreenderam a equipe por ele ser um tipo mais fraco e menos maduro, produzida no início de uma infecção. Essa proteína imunológica tem cinco "braços", usados para se ligar ao vírus. Os cientistas observaram que, no caso da infecção pelo zika, esses "tentáculos"se prendem simultaneamente ao patógeno, o enfraquecendo.

Para desenvolver o anticorpo em uma terapia, os pesquisadores planejam começar a testar sua segurança e a eficácia em modelos pré-clínicos adicionais. Ainda não há previsão para os ensaios com humanos.

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