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19.8.22

Polícia da Nicarágua detém bispo crítico de Ortega

 Rolando Álvarez foi retirado com violência de sua casa, onde estava em prisão domiciliar, e teria sido levado para Manágua.

A Polícia Nacional da Nicarágua retirou o bispo de Matagalpa e crítico do governo, Rolando Álvarez, de sua residência oficial, onde estava em prisão domiciliar nas últimas duas semanas, investigado por "desestabilizar" o país. Horas depois da operação, na madrugada desta sexta-feira, uma nota da polícia informou que ele foi levado para a capital, Manágua, e é mantido sob "guarda domiciliar" com acesso à família, mas o local não foi não revelado.

Após a detenção, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse estar "muito preocupado" com os ataques contra a democracia e a Igreja Católica na Nicarágua, de acordo com um de seus porta-vozes.

— Antonio Guterres está muito preocupado com o grave fechamento do espaço civil e democrático na Nicarágua e as recentes ações contra organizações da sociedade civil, incluindo as da Igreja Católica — disse o porta-voz Farhan Haq a repórteres na sede das Nações Unidas.

Mais cedo, em comunicado postado no Twitter, o Conselho Episcopal da América Latina e do Caribe (Celam) informou que “a Polícia Nacional entrou na Cúria Episcopal de nossa Diocese de Matagalpa e levou monsenhor Álvarez”, acrescentando que seu paradeiro era desconhecido.

Segundo Vilma Nuñez, presidente do Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh), o bispo da cidade do Norte da Nicarágua foi retirado de casa com violência. No momento da batida, no meio da noite, houve um toque de sinos que teria alertado os paroquianos do que estava acontecendo, segundo um vídeo divulgado nas redes sociais.

A própria diocese alertou na sexta-feira sobre a entrada da polícia na residência.Dois padres foram levados junto com o bispo. “Que escandaloso, levaram dom Rolando Álvarez, com os padres que estavam com ele. Chega de tanto silêncio! Que falem quem tem que falar e mostrar o rosto, isso se chama pecado de omissão”, disse o padre Edwing Román, exilado em Miami, nas redes sociais.

Em 4 de agosto, Álvarez foi posto em prisão domiciliar na Cúria de Matagalpa, junto com uma dúzia de pessoas. O local foi sitiado dias depois que o bispo denunciou o fechamento pelas autoridades de cinco rádios católicas e exigiu que o governo de Daniel Ortega respeitasse a “liberdade religiosa”.

De acordo com a polícia, a Diocese de Matagalpa está sendo investigada por tentar “organizar grupos violentos” e “incitar ódio para desestabilizar o Estado da Nicarágua”.

No começo de agosto, o governo fechou cinco emissoras de rádio católicas na região, alegando suas licenças de operação não eram válidas, o que Álvarez negou à época. Em junho do ano passado, o canal de televisão da Conferência Episcopal da Nicarágua (CEN) já havia sido fechado.

As tensões entre a Igreja Católica e o governo aumentaram em 2018, quando vários templos católicos deram abrigo a manifestantes feridos nos protestos que eclodiram contra Ortega. Entre 2018 e 2019, a Igreja também tentou mediar um diálogo entre o governo e a oposição, mas sem sucesso. Em março, o Vaticano informou que o governo nicaraguense retirou a aprovação para permanecer no país do seu núncio em Manágua desde 2018, Waldemar Sommertag.

Na quarta-feira, 26 ex-chefes de Estado ou de governo da Espanha e da América Latina publicaram um apelo ao Papa Francisco — que nunca falou publicamente sobre a situação — para adotar “uma posição firme em defesa do povo nicaraguense e sua liberdade religiosa”.

A “ditadura primitiva dos Ortega-Murillo avança para a perseguição de líderes episcopais católicos, padres e freiras”, escreveram líderes de tendência conservadora, incluindo José María Aznar (Espanha), Iván Duque e Álvaro Uribe (Colômbia) e Luis Lacalle Herrera e Julio María Sanguinetti (Uruguai).

Além da perseguição a jornalistas e à Igreja, o regime de Ortega ordenou no ano passado a prisão dos sete candidatos da oposição com mais chance de enfrentá-lo nas eleições — nas quais ele foi proclamado vencedor.

Entre os detidos estão ex-guerrilheiros sandinistas, antigos companheiros de Ortega na luta contra a ditadura da família Somoza, que governou a Nicarágua por 47 anos. Também foram presos analistas políticos, feministas, ativistas sociais e empresários.

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