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29.8.22

MPT investiga empresários que torturaram funcionários por suposto furto de R$ 30 na Bahia

 Vítima teve mãos queimadas e colega foi agredido com pauladas. Caso aconteceu em Salvador e é investigado pela polícia.

O Ministério Público do Trabalho na Bahia (MPT-BA) abriu um inquérito para investigar a denúncia de tortura contra dois trabalhadores que foram agredidos pelos patrões em Salvador, neste mês. Uma das vítimas teve as mãos queimadas. O jovem teve as mãos queimadas com o número 171, em referência ao crime de estelionato.

O crime foi cometido em 19 de agosto, mas só foi denunciado à Polícia Civil no dia 26. As agressões foram motivadas por um suposto furto de R$ 30. Os trabalhadores negam que tenham pegado o dinheiro.

Nesta segunda-feira (29), o advogado das vítimas esteve na delegacia que investiga o caso, para cobrar rapidez no processo. Já o MPT informou que vai solicitar informações para Polícia Civil, e que as vítimas e os empresários serão convocados para prestar depoimento.

Tortura física e psicológica

"Ele falou: 'eu só não vou queimar sua testa porque você já é feio. Com a testa queimada vai ficar mais feio ainda, então vou queimar na mão'". O relato chocante é do jovem William de Jesus, de 21 anos, um dos jovens que foi torturado pelo patrão.

As duas vítimas e um dos agressores, identificado como Alexandre Carvalho Santos, prestaram depoimento em delegacia. Um segundo homem, que filmou a tortura, também deve ser ouvido pela polícia. Os donos da loja também foram procurados pela reportagem.

Willian contou que no dia da agressão chegou para trabalhar, e foi pego em uma “emboscada” montada pelos dois. Durante a sessão de tortura, os homens queriam que ele confessasse o suposto roubo.

"No momento em que estava me batendo, eles estavam gravando e dizendo para que eu confessasse. Eu falei: 'não vou confessar nada, porque eu não roubei nada'".

Marcos Eduardo, que também foi agredido com pauladas nas mãos, contou que está traumatizado e que sofreu ameaças de morte.

"É traumatizante. Eu não durmo direito, me assusto de madrugada porque ele me ameaçou de morte. Falou que, se não tivesse gostado [da tortura], era para dar queixa".

"Eu não preciso disso [roubar]. Eu tenho um filho, pago aluguel, trabalho. Acordava às 5h da manhã todos os dias, para trabalhar para ele. Saia quase 20h da noite. Fechava a guia e ainda ficava. Se eu fosse roubar, eu não ia roubar só R$30".

Mães indignadas

As imagens gravadas por um dos empresários, o que ainda não foi identificado, mostram Alexandre dizendo que identificou os funcionários roubando. Em um trecho ele diz: "Mais um ladrão aqui, mais um ladrão pessoal. Trabalhou para mim, a gente deu moral e confiança, e ele metendo a mão no dinheiro".

Homens são agredidos por ex-patrões após acusação de roubo em Salvador — Foto: Reprodução/TV Bahia

As mães das duas vítimas estão indignadas com a tortura e também prestaram depoimento. À mãe de Willian, Claudete Batista, o agressor relatou que queria fazer "justiça".

"Ele disse: 'eu fiz isso porque seu filho estava roubando'. Mesmo se ele [filho] estivesse roubando, ele [Alexandre] tinha que ir à justiça, não torturar e fazer justiça com as próprias mãos", apontou Claudete.

A mãe de Marcos, Vilma Serra, também trabalhava para Alexandre e relatou a mesma consternação com as agressões.

"Ele [Alexandre] telefonou para mim, porque eu também trabalhava para ele. Quando eu cheguei, ele [filho] estava sentado. Ele [Alexandre] suspendeu a porta e começou a falar que ele [filho] tinha roubado, aí eu fiquei sem reação".

Para o filósofo Rosival Carvalho, a tortura deturpa a ideia de Justiça.

"Nenhum de nós tem autoridade sobre o outro, de cometer tal delito – aquela ação foi uma ação delituosa. Aí é tortura e não podemos acertar aceitar a naturalização da barbárie, como algo que faz parte de um processo de sociedade".

Polícia investiga

O caso é investigado pelo delegado William Achan, que informou que Alexandre admitiu ter feito “justiça com as próprias mãos”.

"Ele disse que ficou bastante chateado pela subtração, segundo ele, de um valor de R$30. Só que a vítima alega que, enquanto estava fazendo a limpeza achou esse dinheiro, e que seria entregue a ele [Alexandre], mas ele não aceitou os argumentos dos funcionários. E então, de modo imprudente, acabou tentando fazer a lei com as próprias mãos".

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