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5.7.21

Festival de Cannes volta com a missão de mostrar ao mundo que o cinema vive

 Cancelado, o festival divulgou os títulos que deveriam estar em sua mostra competitiva e os agraciou com o selo da seleção oficial da edição fantasma.

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) — Os vestidos de grife, os smokings elegantes e os flashes das câmeras fotográficas estão de volta à Riviera Francesa. Depois de ter sua edição de 2020 estragada pela pandemia de coronavírus, o Festival de Cannes estende novamente seu tapete vermelho a partir desta terça (6), para que celebridades do calibre de Tilda Swinton e Marion Cotillard desfilem pela Croisette.

Elas são duas das atrizes que estrelam filmes da mostra competitiva desta 74ª edição da mais importante mostra cinematográfica do mundo — o misterioso "Memoria" e o musical "Annette", respectivamente —, que chega com nomes de peso, como que para compensar a ausência da festa no ano passado. Por causa da Covid-19, os organizadores de Cannes seguraram as datas do evento de 2020 até o último momento, quando notaram que não seria possível realizá-lo.

Cancelado, o festival divulgou os títulos que deveriam estar em sua mostra competitiva e os agraciou com o selo da seleção oficial da edição fantasma. Pouco depois, uma versão enxuta dele, voltada para curtas-metragens, chegou a ser realizada, mas sem a pompa tradicional e com público limitadíssimo — ainda eram tempos pré-vacina. Nesse meio tempo, o suntuoso Palais des Festivals chegou a ser transformado em hospital de campanha e, depois, em posto de imunização.

A edição de agora chega com a intenção de dar um senso de normalidade à indústria cinematográfica, como se dissesse a exibidores, distribuidores, produtores e público que, sim, o cinema continua forte mesmo após os baques que sofreu com a pandemia. "O cinema não está morto", disse o diretor artístico, Thierry Frémaux, no mês passado. Ele também vem alfinetando a Netflix e outros streamings nas últimas semanas.

Spike Lee, que deveria ter presidido o júri no ano passado, volta agora à função — pela primeira vez ocupada por um negro-, à frente de um grupo que ainda tem nomes como Song Kang-ho, Mélanie Laurent, Mati Diop, Maggie Gyllenhaal e o cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho.

"Eu gosto dessas experiências de júri, não importa o tamanho do festival. Os júris são formados por pessoas da cultura, do cinema. Vemos filmes, discutimos ideias. São experiências humanas e artísticas, às vezes experiências imperfeitas. E é assim a vida", diz Mendonça Filho.

Vacinado e já na França, ele ficou dez dias em quarentena, praticamente sem pisar na rua, para que agora pudesse circular livremente pelo país. "Nas últimas semanas vi uma vida bem próxima da normalidade", afirma.

Ele não sabe prever o quão diferente Cannes será esse ano — ou se realmente o será. Mas, com a Covid-19 relativamente sob controle por lá, os cuidados pessoais e protocolos de segurança que já se tornaram praxe no mundo todo pouco devem afetar o dia a dia do festival.

Para garantir essa quase normalidade, o presidente do evento, Pierre Lescure, dispensou as sessões virtuais -como vinha sendo a regra em inúmeras mostras pelo mundo- e convidou os espectadores e a imprensa para participarem – elementos que estiveram ausentes na maioria dos eventos do gênero no último ano.

Mas não sem antes atrasar esta edição, que passou de sua tradicional data de maio para julho, dando tempo para que mais gente fosse imunizada na Europa. Por isso, os presentes na costa francesa precisarão carregar uma espécie de passaporte sanitário consigo até o dia 17 de julho, quando acontece a cerimônia de premiação e encerramento -e, se não estiverem vacinados, realizar testes a cada 48 horas.

Nem todos os países, porém, estão livres para comemorar o arrefecimento da pandemia. Justamente por isso, o produtor carioca Rodrigo Teixeira não vai ao festival pela primeira vez em anos. Ele só tomou a primeira dose da vacina e o receio, conta, se juntou à enorme burocracia que encontraria se fosse pegar um voo para a França.

Ele lamenta não participar fisicamente de uma edição que acredita ser histórica. "A gente tem que botar o glamour do festival de lado e olhar para o que ele significa, uma celebração da vida. O importante mesmo é essa tentativa de termos uma volta à normalidade, de poder apresentar nossos filmes numa sala de cinema, dividir com o público o nosso trabalho. O segredo é esse retorno", diz Teixeira.

Ele terá como representantes de sua produtora, a RT Features, em Cannes, os filmes "Bergman Island", da diretora francesa Mia Hansen-Løve, que está no páreo pela Palma de Ouro, e "Murina", da croata Antoneta Alamat Kusijanovic, produzido em parceria com Martin Scorsese.

Não há, no entanto, nenhum cineasta brasileiro presente na mostra competitiva de longas neste ano. Vale lembrar que, em 2020, "Casa de Antiguidades", de João Paulo Miranda Maria, recebeu o selo de aprovação de Cannes, e, em 2019, o Brasil saiu da costa francesa com duas láureas -o prêmio do júri para "Bacurau" e o da mostra Um Certo Olhar para "A Vida Invisível", produzido por Teixeira.

Os brasileiros aparecem agora, para além do guarda-chuva do produtor carioca, com "O Marinheiro das Montanhas", de Karim Aïnouz, nas sessões especiais, e com "Medusa", de Anita Rocha da Silveira, na Quinzena dos Realizadores. Como coprodutor minoritário, o país está em "Noche de Fuego" e "O Empregado e o Patrão".

Entre os curtas, são nacionais "Sideral", de Carlos Segundo, e "Céu de Agosto", de Jasmin Tenucci, que competem pela Palma de Ouro da seção, e "Cantareira", de Rodrigo Ribeyro, na Cinéfondation.

De volta à disputa pelo prêmio máximo de Cannes, além de Mia Hansen-Løve estão outros 23 cineastas. Há Apichatpong Weerasethakul e Leos Carax, dos citados "Memoria" e "Annette", e nomes que já venceram prêmios importantes em edições passadas -Jacques Audiard, com "Paris 13th District"; Mahamat-Saleh Haroun, com "Lingui, The Sacred Bonds"; Bruno Dumont, com "France", e Nanni Moretti, com "Tre Piani".

Outros longas de olho na Palma de Ouro incluem "Benedetta", de Paul Verhoeven, sobre uma freira italiana que tem desejos eróticos; "Flag Day", de Sean Penn, sobre um pai que tem uma vida dupla como criminoso; "Ahed's Knee", de Nadav Lapid, que acompanha um cineasta; "Red Rocket", de Sean Baker, que fala sobre o retorno de um ator pornô à sua cidadezinha; "A Hero", de Asgar Farhadi, cuja trama está em sigilo, e "The French Dispatch", de Wes Anderson, sobre um grupo ficcional de jornalistas na França.

Fora da competição principal, devem causar burburinho "The Velvet Undergound", sobre a banda homônima, dirigido por Todd Haynes, e os novos filmes dos oscarizados Tom McCarthy e Oliver Stone, dos atores-diretores Mathieu Amalric e Charlotte Gainsbourg, e dos habitués da Croisette Gaspar Noé e Hong Sang-soo.

É uma seleção, nas palavras de Kleber Mendonça Filho, que se parece com "um grande banquete, com todo tipo de bebida". E Cannes parece estar mais pronto do que nunca para brindar a volta às salas de cinema.

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