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Pesquisadores estão preocupados com uma possível
Foto: Getty Imagesdisseminação do Mayaro após o furacão Matthew |
Pesquisadores da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos,
anunciaram ter encontrado no Haiti um caso inédito de mayaro, doença
caracterizada por uma febre hemorrágica similiar à da chikungunya.
Ainda que o vírus não seja totalmente desconhecido - foi detectado nos
anos 1950 -, até agora só haviam sido registrados pequenos surtos
esporádicos na região amazônica e seus arredores.
Especialistas alertam que este caso pode ser um indício de que o vírus
está se espalhando e já começa a circular pela região do Caribe.
"Os sintomas são muito similares aos da chikungunya. Por isso, quando o
paciente vai ao médico, pensam se tratar dessa doença e não sabem que é
mayaro", disse John Lednicky, que liderou a equipe da universidade
americana responsável pelo estudo.
Lednicky explicou não haver nenhum sintoma que distingua a chikungunya
da febre mayaro. Ambas provocam febre, erupções na pele e dores nas
articulações.
Em ambos os casos, os efeitos são mais prolongados do que em paciente
com dengue e zika, chegando a durar de seis meses a um ano.
"O que está acontecendo é que estamos nos deparando com pacientes que
se queixam de erupções na pele e dores musculares prolongadas, mas os
exames dão negativo para Zika e Chikungunya. Então, o que afinal eles
têm?", disse Lednicky.
O preocupante é que o vírus detectado no Haiti é geneticamente
diferente dos que haviam sido descritos previamente, esclareceu o
especialista.
"Não sabemos se é um vírus novo ou uma nova cepa de diferentes tipos de Mayaro."
Casos de mayaro
O vírus foi descoberto em 1954 em Trinidad e Tobago, mas até agora só
se sabia de surtos isolados na selva amazônica e em outras partes da
América do Sul, como Brasil e Venezuela.
O caso encontrado pela Universidade da Flórida foi identificado a
partir de uma amostra de sangue de um menino de 8 anos de uma zona rural
do Haiti. Ele tinha febre e dores abdominais, mas não apresentava
erupções nem conjuntivite, sintomas normalmente associados à
chikungunya.
Pesquisadores da universidade colheram uma série de amostras durante e depois do surto de chikungunya no Haiti.
Após a análise virológica e molecular para detectar os vírus da dengue e
da zika, foi confirmada a presença da dengue no paciente alvo do
estudo, mas também de um novo vírus, identificado depois como o Mayaro,
disse Lednicky.
Enquanto a atenção do mundo estava voltada para o Zika, "a descoberta
deste outro vírus é uma grande fonte de preocupação", disse Glenn Moris,
diretor do Instituto de Enfermidades Patógenas Emergentes da
Universidade da Flórida.
Investigação precisa de recursos
Lednicky explicou que é "difícil avaliar o quão grave é o surto de
mayaro neste momento", já que existem poucos estudos sobre o vírus.
"No Brasil, há dois tipos genéticos diferentes, e não sabemos qual é o
mais virulento. Faltam mais estudos e monitoramento das áreas afetadas."
Um problema é a falta de recursos para fazer essas pesquisas, segundo médico americano.
"Na Universidade da Flórida, estamos buscando fundos, mas é difícil
obtê-los para esse tipo de estudo nos Estados Unidos. E no Haiti, os
poucos recursos que eles têm são necessários para cobrir as necessidades
mais básicas dos pacientes."
Lednicky acrescentou não saber o que vai acontecer no Haiti após a
passagem pelo país do furacão Matthew, que poderia ter levado os
mosquitos transmissores da doença até a República Dominicana e outras
ilhas caribenhas.
Possível adaptação do vírus
A semelhança com o vírus da chikungunya também preocupa os cientistas.
Em um artigo publicado na revista
Scientific American
, Marta Zaraska, jornalista especializada em ciência, destaca que isso
poderia explicar por que o Mayaro pode se tornar um problema
generalizado.
"Ambos os vírus eram originalmente transmitidos por mosquitos da selva,
infectando pessoas na região amazônica, mas o Chikungunya tem se
adaptado e hoje é transmitido por mosquitos urbanos, como o
Aedes albopictus
e o
A
edes
aegypti
", que também transmitem a febre amarela, a dengue e a zika.
Segundo Zaraska, "o mesmo pode estar ocorrendo no caso do Mayaro".
Em exames de laboratório, foi provado que o
Aedes albopictus
e o
A
edes
aegypti
podem ser vetores da febre mayaro - e o fato do vírus ter sido
detectado no Haiti sugere que ele também está se adaptando ao ambiente
urbano.
BBC Brasil