Crise alimentar em Gaza chega a estágio letal. Relatório internacional aponta mortes por desnutrição e alerta para iminência de tragédia em massa.
A crise alimentar na Faixa de Gaza atingiu um estágio “alarmante e letal”, segundo relatório divulgado nesta terça-feira (29) pelo consórcio IPC (Classificação Integrada de Segurança Alimentar), que reúne agências da ONU, ONGs e instituições independentes. O documento alerta que uma em cada três pessoas no território palestino passa dias inteiros sem se alimentar, e que a fome já ultrapassou os limites mínimos para a sobrevivência humana.
Desde o início da guerra, há quase dois anos, a população de Gaza vive sob bombardeios, bloqueios e deslocamentos forçados. Agora, soma-se a esse cenário a fome extrema. “Mortes em massa são iminentes se nada for feito”, afirma o relatório.
Entre abril e julho deste ano, mais de 20 mil crianças foram internadas com sinais de desnutrição aguda. Destas, 3 mil estão em estado grave, e pelo menos 16 menores de cinco anos morreram de fome desde o dia 17 de julho, conforme registros hospitalares.
O documento do IPC é contundente: “Os limiares de fome foram atingidos em grande parte da Faixa de Gaza”. Embora Israel tenha autorizado recentemente lançamentos aéreos de alimentos, especialistas consideram essa medida cara, perigosa e insuficiente. A entrada de ajuda por terra, ainda amplamente bloqueada, é considerada a única via eficaz para conter a tragédia.
Em maio, o IPC já havia classificado 93% da população local — cerca de 1,95 milhão de pessoas — em situação de insegurança alimentar. Dentre elas, 925 mil viviam em emergência e 244 mil enfrentavam situação de catástrofe. Os novos dados devem indicar um agravamento ainda mais severo.
O uso da fome como arma de guerra foi denunciado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, que declarou: “A fome nunca deve ser usada como instrumento de guerra”. Porém, agências humanitárias afirmam que o cerco prolongado, a destruição de infraestrutura e a restrição à entrada de alimentos configuram um colapso social intencional.
Relatos dramáticos indicam que famílias recorrem à grama, ração animal ou carne de tartaruga para sobreviver.
Apesar de Israel ter anunciado uma “pausa tática” diária entre 10h e 20h para permitir a distribuição de ajuda humanitária, os ataques continuam fora desse período e em áreas não contempladas. Segundo o Escritório da ONU para Assuntos Humanitários, a quantidade de ajuda que chega à região está “muito aquém do necessário”.
O conflito foi deflagrado após os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023, que resultaram na morte de 1.219 pessoas em Israel, a maioria civis. Desde então, mais de 59 mil palestinos morreram em Gaza, e cerca de 145 mil ficaram feridos.



Por Redação





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