Em editorial publicado nesta terça-feira (22), o jornal O Globo criticou com veemência a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que proibiu a veiculação de entrevistas do ex-presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais. A medida foi tomada no contexto da ação penal que julga o ex-presidente por tentativa de golpe de Estado.
Segundo o jornal, a determinação é “indevida e inoportuna” e representa uma ameaça ao direito à liberdade de expressão e ao trabalho da imprensa. O editorial, intitulado “Proibir entrevista é indevido e inoportuno”, reconhece que medidas cautelares como uso de tornozeleira eletrônica e restrições de aproximação a postos diplomáticos são compreensíveis, mas considera que a proibição de entrevistas “ultrapassa os limites da razoabilidade”.
Imprensa sob risco de cerceamento
O Globo alerta que a decisão do ministro inibe jornalistas de ouvirem o réu, diante do risco de que qualquer declaração possa se tornar “material proibido” se publicada em redes sociais. “A imprensa deve ser livre e não pode trabalhar sob cerceamento”, afirma o texto.
A decisão de Moraes estabelece que a proibição de uso das redes sociais por Bolsonaro “inclui, obviamente, as transmissões, retransmissões ou veiculação de áudios, vídeos ou transcrições de entrevistas em qualquer das plataformas das redes sociais de terceiro”, o que amplia o alcance da medida.
Comparação com Lula
O editorial ainda compara o caso de Bolsonaro com o do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, em 2019, mesmo preso, teve autorização do STF para conceder entrevistas à imprensa. Segundo o jornal, a decisão atual “é extravagante” e praticamente impede o ex-presidente de se comunicar, inclusive em conversas informais, dado o risco de gravações.
Apesar de reconhecer a gravidade das acusações contra Bolsonaro e o histórico de disseminação de desinformação, o O Globo defende que o julgamento ocorra de forma pública e transparente, o que considera benéfico até mesmo para o próprio Supremo Tribunal Federal.
Tensões diplomáticas e pressões externas
A crítica do jornal surge em meio a um cenário de tensão entre os Poderes no Brasil, intensificado pela recente interferência do governo dos Estados Unidos. O presidente Donald Trump anunciou tarifas contra exportações brasileiras e restrições a ministros do STF, em uma suposta retaliação ao tratamento dado a Bolsonaro, conforme reportado.
O editorial conclui que, mesmo diante de riscos como fuga, pedido de asilo ou obstrução de Justiça, não se justifica a imposição de censura prévia à imprensa ou à manifestação pública do ex-presidente.





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